terça-feira, 27 de novembro de 2007

"- Seria bom um cérebro nesse coração", disse enquanto pensava alto.


Os críticos que criticam e analisam ganhando dinheiro para tal formulam suas teorias retinóicas sobre o "por que" do sucesso da Frida Kahlo nos tempos modernos. Alguns deles, dentro das possibilidades de arquivo das suas ligações neurais, ilimitam em longas páginas o viés que o seu córtex visual inconscientemente ou não, resolveu escolher. Enfim, o mais importante é diminuir o crítico a sua altura. Sim, se você tem 1. 67, coloque o crítico sobre a mesma metragem material e metafórica. Isso vale para vocês de 1.92 também. Separei alguns córtex visuais que não serão nomeados.

- "A artista mexicana Frida Kahlo, o grande ícone da pintura ibero-americana, cuja arte "mexicanista" rompeu todas as barreiras e hoje em dia, no centenário do seu natalício, situa-se como uma das artistas ibero-americanas melhor valorizadas no nível mundial." (pelo menos não começou assim: "Nos tempos da globalização...");

- "Os corações em sofrimento estão unidos por veias braquiocefálicas direitas de ambos os corações. Tais veias estão tão unidas quanto unidas estão as mãos das Fridas. A Frida européia mostra seu coração dilacerado, aberto, com as valvas, músculos papilares e cordas tendíneas à mostra. A sua veia subclávio direita está presa por uma pinça sob controle da mão direita, dando a entender que a qualquer momento a Frida abandonada se deixará esvair em sangue até à morte." (essa é uma visão técnica e interessantíssima de uma médica sobre o famoso quadro intitulado "As duas Fridas")

- "Nada mais contraditório do que seu desejo de ser independente misturados à sua doentia obsessão por Diego Rivera. Nada mais chocantes para a época que suas bebedeiras, xingamentos e namoros com várias amigas." (essa tem um suporte mais tititi)

-"É difícil falar do pintor mexicano Diego Rivera sem o associar à agora tão mediática Frida Kahlo, que foi uma das suas mulheres. " (???)

Ela foi considerada "surrealista" pelo próprio André Breton, "realista" pelo Diogo de Rivera, "mexicanista"... Todos eles gozando fascinados pela pintora e pela obra da mesma. Bom, mas esses são os críticos, seus guias, seus dicionários, suas palavras...

O que eu amo na Frida é a dor, certamente. Ela possui inúmeros quadros com o coração literalmente pintado na mão, como se o estivesse esfregando na nossa cara o tempo todo. É como se ele estivesse batendo em cada uma das suas telas, nas roupas, na sobrancelha, no devotamento pelo Diego, na sua arte. Uma vez a Frida Kahlo, respondeu assim, para um desses críticos que a consideravam "surrealista": "Eu nunca pinto sonhos". E eu penso em uma dessas imagens do rosto da Frida, com um coração na mão, veias saltando pra fora, com a vida difícil, cercada de doenças e frustrações que ela passou, e eu não vejo esse "sonhar"... Essa entrega animalesca aos instintos do coração á apaixonante. Mas dói.

É louco porque é uma vazão ao sentimento, é uma atitude vivida diante da pálida realidade, que no dia a dia, em cotidianos tão superficiais, fica surreal. Mas não é. É uma realidade em outra. E essas realidades são entregas diferentes, e também, cada uma com o seu córtax visual fazendo sentido.

A Frida caminha com o coração sangrando na mão. Segue resiguinada e o sangue continua escorrendo no chão... E esse coração se repete materialmente nos seus quadros. Na sua mão. O seu coração é o seu escudo, e o seu ataque diante da vida, ao mesmo tempo. O seu coração é a sua arte. É como se a possibilidade de naquela mão existir um cérebro fosse longínqua...


Daí eu fico com a Frida, e longe das réguas dos críticos. Meu amigo é que me fala sempre:
- Constância, dá só a metade!!!

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