sábado, 27 de setembro de 2008

My Blueberry Mornings


"I don't know how to begin, cause the story has been told before..."
The story, Norah Jones*

***
E por que você não fica? Fiquei. Simples assim. Afinal as teorias estão aí para as comunidades científicas, as preocupações estão aí para os conselhos dos pais e as leis do equilibrio estão aí para os nossos Deuses. Fiquei.


Corrí para a loja de cds mais próxima e escolhi um para ser trilha sonora, para treinar o inglês. “Norah jones… Já ouvi falar…”. Comprei.


Primeiro emprego, sete horas da manhã, e lá estava eu naquele café na Brodway com a rua quarenta e seis. “Quer provar?”, “O que é isso?”, perguntei. “Blueberry muffin”. Provei.


Então era um tempo mais ou menos assim: meus muffins de blueberry, a Norah Jones e New York City. Era um tempo que eu não sabia exatamente para onde estava indo. Fui.


(Parentêses): “E quando é que se sabe? Digamos assim: exatamente”.


Londres, inverno londrino. O tempo que se esgotava e as experiências suficientes. Todos aqueles estrangeiros, os estranhos, e nas entranhas da garganta, elas: respostas. Chegaram.


O mochilão que não acabava, e acabou. O passaporte estrategicamente roubado. O avião que atrasou. A volta de quem não havia partido, as lembranças: Voltaram.


Então era o coração do outro lado da rua. Os conhecidos, os amigos, as famílias. Pão com manteiga, samba rock e um incenso pela manhã. Comiam.


“Eu vi um filme e lembrei de você”. “Qual filme?” Perguntou. “My blueberry nights. Vai assistir e você vai entender porque.” Vou.


(Parentêses): “E quando é que se sabe?” "Cê sabe". Digo isso assim: de beijo roubado.

Deliciosa torta de Blueberry



"So don't go away, say what you say, but say that you'll stay, forever and a day... in the time of my life: 'Cause I need more time, yes I need more time, just to make things right". Don't go away, Oasis.


My blueberry nights, ou, “Um beijo roubado”, título em português, é quase um road movie, de Wong Kar Wai, diretor chinês. Conta a intro-hitória de Elizabeth (Norah Jones), em sua viajem sem destino Estados Unidos a dentro. No interior do país, e dela própria, reconstróim-se seus valores através de uma experiência-espelho com os personagens que encontra no caminho. O seu único contato com o passado, são os postais que escreve periodicamente para Jeremy (Jude Law).

O interessante do filme, no entanto, é o fato de Elizabeth ser quase a protagonista, e de o filme ser quase uma história de amor. O que emerge na centralidade da obra é a expressão da solidão, em seu sentido mais profundo. É como se o filme fosse, na verdade, um documentário sobre um sentimento que é exemplificado em pontualidades: o tracejado de seus personagens e como eles lidam com o que realmente sentem em desconhecimento, contraditoriamente. Nessa lógica, apenas ao depararem-se com uma situação limite, como a morte por exemplo, há um retorno ao que estava permanente e vivo dentro de sí.

Assim, a personagem quase principal, Elizabeth, está a distância de casa, e em distância de sí. A atitude impessada de fuga é o desejo de aproximação a um estado psicológico diferente a desconexão em que se encontrava após a perda de seu antigo amor. O movimento de aproximação consigo, cresce a medida em que se vê nos personagens, e percebe no outro a mesma opacidade. “A história já foi contada antes” diz a canção The Story, escrita para o filme por Norah Jones. O relaxamento da personagem a fortalece e aproxima-a de sí, do outro, e de um novo amor.

A solidão e a distância também estão dilatadas no jeito de filmar do diretor em uma espécie de câmera indireta e lenta. A visão do espectador é anteposta a elementos que ofuscam os personagens e pintam o drama central em cores melancólicas. Observe, por exemplo o outdoor de divulgação do filme, a cena do beijo roubado, em que no primeiro plano saltam aos olhos do observador as cores de um letreiro luminoso comum e repetitivo nas esquinas das cidades grandes. Lugar máximo do eu-sozinho. As lentes estão curiosas aos vidros escritos do café de Jeremy, estão atrás das cortinas coloridas de um bar na cidadezinha de Memphis, e entre as luzes de um cassino em Las Vegas.

A despedida do passado é o pré-requisito para que o sentimento de perda seja substituído pelo de acréscimo, e assim de Elizabeth, finalmente perceber-se presente e viva. O desejo físico pelas tortas de blueberry, é simbolo de um desejo maior por quem fazia as tortas. E são estas delícias como a torta de blueberry e o “Jude Law”, que, absolutamente não devem ser desperdiçadas. rs. (pra descontrair!). O filme é uma passagem por uma das passagens que a vida, obrigatoriamente, se dá. E é uma passagem por que, continua. Fica o convite, para que passem por ele, num desses dias em que há tempo. E dá pra acompanhar com muffin de blueberry vendido no Starbucks café, na Paulista. Até breve.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

grafite e cilindro de madeira em projeto de dominação.




Entre um furacão e outro de idéias maiores do que são, e imagens catastróficas da realidade, entre uma cobrança e outra. Entre vaidades, medos e inseguranças, o ego, pouco altruísta, pensa em sí. Lotado. Ocioso em tamanha desnatuturação interior. Talvez uma evolução seria não pensar nas causas, talvez fosse pensar no: "pra onde"... ou qualquer outra coisa que mude o assunto.


E, é neste momento que sou salva. Ele, o lápis, e somente o lápis pode me resgatar de tamanha dramaticidade. Dele o teatro não me escapa. Seria quase uma bic meditativa, de poderes magináveis. Meu adorado lápis. Um plano altamente infalível e conspiratório para dominar meu mundo, e de descansar dele.