quarta-feira, 28 de novembro de 2007

da família das castanhas de caju


Era uma vez um garoto como ele. O menino dos olhos castanhos. Amava os Beatles e os Roling Stones, girava o mundo sempre a cantar as coisas lindas da América... Ra ta ta tá! Os olhos são grandes e castanhos. Expressivos olhos das noites em claro a bater perna por entre as retinas. Luzes que ascendem e apagam inconstantes por entre as voltas eternas das batatas da perna. Aquele par alumia ofuscante. Menino dos olhos dilatados.


Íris de Macunaíma mas sem a preguiça. "Não quero rede, quero moto!". Olhar brincalhão e imaginativo do menino. Otimista incorrigível, humor piada-pronta, conta estórias de terror para as criancinhas nanarem. Em seu cavalo de duas velozes rodas, não teme, enfrenta. Alan além d-Alma.

"- É o dono daquele belo par de olhos castanhos!" diria mais uma das moças tão acostumadas a admirar.

Um daqueles pequenos meninos , pés descalços a jogar sua bola e brincar de pipa. Menino desses que tacavam fogo na saia das freiras do colégio e se riam, e ainda riem desaforados de certas pomposas normas sociais.

Moleque atrevido dos cortiços da Aclimação, da terra Liberdade. Calorosos ventos brindam o olhar castanho dos pés já calçados do Doutor menino. Mas um dia seu doutô... Ra ta ta tá!


O menino teve que stop sem Mick Jager e nem o John. Não era o Vietna, mas também era bomba. Em nove meses, o menino iria ser pai. Nascia a menina! E ele, traquinagem, castanhando o destino: "Tudo vai dar certo".

E como sendo menino, ser pai da menina? E como saber ser realidade? 1984. Aposenta a jaqueta de couro ralada, guarda o disco do Raul, e coloca a motocicleta na garagem. O céu caiu na cabeça do menino. O céu azul.

Fortaleza menino em suas afirmadas masculinidades, fraqueza menino de noite, com a luz apagada. E como dizer para menina: "Ei, o menino também erra!..."?

Ela ouve. Ela sorri: "- Tudo vai dar certo." Dizia o pequeno par faceiro de olhos que se abriam. Olhos esses arregalados para todos os caminhos do planeta. "- Eu quero todos!"


Ele olha intensamente para sua menina. Tudo tinha valido a pena. E o tempo parou. Os dois pares de olhos castanhos, feito espelho refletiam-se marejados, brilhantes... e fez o Silêncio.

"- Ei! Isso aqui não é lágrima não, é meleca!".

"- Eu te amo só um pouquinho."

E riam-se arregalados. Grandes olhos de vários dentes, dentes de castanha.

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