sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

anúncio II


O túnel pregador de peças.
as peças do quebra-cabeça
e do relógio

das maquinagens do jogo do tempo
construídas, encaixadas

prego que prega a peça nos neurônios
dos teatros e suas máscaras

peças que play and replay
no automático, sistemático and cartesiano.

clock and choques.

Era madrugada e ela caminhava sozinha novamente. E no meio do caminho, o túnel. Era sozinha, e eram os perigos da madrugada e os barulhos que se ouviam nos ouvidos pensantes. Ela hesitou. Será? Olhou para os lados. Sentiu medo. Rios para dentro. "E agora?"... Ela acolheu nos braços aqueles arrepios. Abraçou a pele. Abarcou o escuro e feito passos em linha caminhou desengonçada em direção ao fim do túnel. pé após pé e veloz. Os perigos tão próximos talvez pudessem cortar seus pedaços e ela talvez morresse. Não queria que fosse a hora. Imaginação dos que saem, frangotes e de fininho. E ela, Maria, franguinha.

23 em 28. minutus num aquarium.









de nada.

por nada.


nada

nada

nada

nada

nada

nada

nada

nada,


...


nada peixe no oceano

despe-se das tuas escamas.

afunda nas obscuridades

do túnel que queima

respira o sufocamento

do ar rarefeito dentro do mar.


estufa o efeito nas conchas e na areia.


molha-se de sonhos

peixe no aquário do oceano

morre de arder e

...


nada.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

anúncio


A madrugada era fria, e no meio do caminho, um túnel.

- Você não tem medo de atravessar esse túnel? Nossa eu morro de medo... (disse enquanto apressava os passos).

Passou pela cabeça dela fazer um tipo das meninas que sentem medo, e aproveitar a desculpa para abraçar o braço do cavalheiro. Belo cavalheiro, por sinal.

- Não, eu não sinto. (disse a verdade, e diminuiu o ritmo dos passos como quem o convidasse para uma outra sensação diante dos caminhos desconhecidos. Pensou em dar a mão e apertar forte).

Não deu tempo. O corajoso rapaz largou uma primeira apressado até o fim do túnel. Ela, lentamente, aproveitava a escuridão e observava a desastrosa fuga.

- E do que você tem medo?

- Tenho medo de confiar nas pessoas erradas.

- Ah, então não confia tanto... (disse, bem intencionado).

" Pode deixar". Pensava Maria enquanto continuava lentamente os seus passos.

no money, no honey.




- Você me chamou???

- Não querida, everybory is "honey".

escrita muda

Agente não consegue falar. As palavras não saem da garganta. A garganta estranha. Lutar ou fugir. O que dizer? Como dizer? Agente não consegue falar. Deu dor de barriga. Ele ficou doente. Ela saiu como se nada tivesse acontecido. A outra cortou os cabelos. Ele mudou de país e disse que iria aprender inglês. Agente não consegue falar. Ela saiu sorrateira. Disse que nada havia acontecido. Agente não consegue falar. Sim. Não parece, mas agente sente. sente. sente. sente. Tudo igual. Ela só chorou um ano depois. Ela só percebeu um ano depois. As palavras não saem, simplismente não saem. Agente não consegue falar.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

a pescaria e o mergulho do pescoço


- Eu não quero aquário, quero mar. Tá me achando com cara de beta? O umbigo não é o Atlântico, e os olhos vão além do meu nariz. Não quero pés, quero o Nilo. Sereia não maluco!!! Tubarão.



Ela olhava as nuvens no céu do seu olhar. do sol, do seu, do céu olhar. Gira céu. Gira sol. Giro seu. Choveu. Gira mundo. Girafa com a cabeça além das nuvens. Gigante. Cores de Girassol. Gira, gira, gira... Estar de oito garimpando o infinito. Girandando.




- Fast, but sparkling.

o menino que caminha ao fundo da foto, camisa listrada e chapéu: por que não cabisalto?



para o palhaço, cambalhota, trapalhada. Cara a tapa. O nariz vermelho não é frio não!!! É calor!

É palhaço porque é graça e é de graça. Estúpido palhaço porque é pobre e um pobre.

São os quatro motivos.

Dizem que a máscara do palhaço, o famigerado nariz vermelho, é a menor máscara existente no mundo teatral. E qual mundo que não é teatro?

E segue, graciosa, feliz. Estupidamente gelada, quero dizer, quente. - É morena, garçon!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

a verdade do drumond


Para amar, Neruda. Neruda porque ele é cem vezes e mais uma canção desesperado. Para alma, Bandeira. Bandeira porque ele é simples e exato. É dançar um tango, calmo, leve e imortal. Para pensar, Caieiro. Claro, ele é a pessoa das pessoas do Pessoa. Ele vê, e é isso. E a minha cabeça ainda tá mais é pegando no tranco. Gosta é de olhar mesmo. Já vale a pena para as almas não pequenas.

Mas as vezes é bom um gole seco do Drumond. Dessas doses que descem garganta a dentro, queimando. Mais um shot! E talvez ainda precise de mais uns goles de Machado, para beber das realidades sólidas que convivem junto aos mundos dos que acreditam e tomam leite parmalat.


*VERDADE*


A porta da verdade estava aberta,

mas só deixava passar

meia pessoa de cada vez.


Assim não era possível atingir toda a verdade,

porque a meia pessoa que entrava

só trazia o perfil de meia verdade.

E sua segunda metade

voltava igualmente com meio perfil.

E os meios perfis não coincidiam.


Arrebentaram a porta.

Derrubaram a porta.

Chegaram ao lugar luminoso

onde a verdade esplendia seus fogos.

Era dividida em metades

diferentes uma da outra.


Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.

Nenhuma das duas era totalmente bela.

E carecia optar.

Cada um optou conforme

seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

o inglês, o português e o italiano

Ela era brasileira. Ele italiano. Eles trabalhavam juntos em um café na cidade de Londres. Ela desconfiava de umas situações um tanto quanto desencaixadas que ocorriam continuamente naquele café. Conversavam em inglês:

- Elvio, fala a verdade pra mim, às vezes, quando falo com você, você não entende exatamente o que quero dizer né? (disse, meio que segurando o riso).

Elvio, franzino e pequeno, meia idade, olhou para Maria e não segurou riso nenhum. Soltou foi ele todinho. Depois seguiu sorrindo, olhos pra baixo, concentrado nas cenouras que estava cortando. Ele não iria responder??? Alguns minutos se passaram, e ele tomou a palavra, e em alto e bom som, disse, ainda olhando para as cenouras:

- Não se preocupe minha querida, às vezes, quando falo comigo mesmo em italiano, também não entendo nada.