segunda-feira, 17 de setembro de 2007

junto ao Vento...




"Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba.
Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros;
Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.
Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense, aberta ao fresco terral a grande vela?
Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano?
(...)
A lufada intermitente traz da praia um eco vibrante, que ressoa entre o marulho das vagas:
- Iracema !
Que deixara ele na terra do exílio?
(...)
Refresca o VENTO.
O rulo das vagas precipita. O barco salta sobre as ondas e desaparece no horizonte. Abre-se a imensidade dos mares, e a borrasca enverga, como o condor, as foscas asas sobre o abismo.
Deus te leve a salvo, brioso e altivo barco, por entre as vagas revoltas, e te poje nalguma enseada amiga. Soprem para ti as brandas auras; e para ti jaspeie a bonança mares de leite!
Enquanto vogas assim à discrição do vento, airoso barco, volva às brancas areias a saudade, que te acompanha, mas não se parte da terra onde revoa." (Iracema, José de Alencar*).



Esse apanhadinho de trechos do livro Iracema, de José de Alencar, ilustra na verdade, a imagem final desta "prosa-poética", (a linguagem salta aos olhos), quando Martim, um guerreiro europeu, despede-se de sua amada, a índia Iracema, já morta, e das terras cearences. Ele está em seu navio, a caminho da Europa, juntamente com o seu filho, "filho da mesma terra selvagem", como diria o autor. Mas eu resolvi colocar esse trecho aqui, pela quase saudação que é feita aos navegantes e ao "Vento". É um deleite linguístico do sentir-se "junto" ao Vento...

Um comentário:

Anônimo disse...

o tempo e o vento, o que se busca pelos caminhos que temos que percorrer, para conhecer, sentir e se ver.
Pelas entranhas de minha alma inquieta, que percorreu cada canto do mundo, sem entender o por que. Sei que tenho que ir e sigo o vento, correndo contra o tempo. Mas sem nunca esquecer quem eu sou e do meu cantinho pequeno da terra em que nasci, neste mundo gigante que busco o que não sei o que perdi.
Voce é o que sou, vc vive o que vivi, quero que tenhas sorte e encontre o que nunca perdi.