quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O mágico da Taberna Minhota é subversivo, mas não é literal.


O que é literal? A relidade é subversiva por que fala por sí só e sem palvras, principalmente se falarmos de uma cidade grande, e mais ainda, de São Paulo. Das multidões aglomeradas, da violência, do trânsito, do PCC, das crianças descalças no farol. O que é subversivo? Passeata? Greve geral? Uma guerra? Uma flor? O banho das crianças de rua nas fontes de água da praça da Sé? Banho com sabonete! Banho com risadas enquanto olham os advogados que passam e fingem que não os vêem? A terceira idade da colônia japonesa (a maior concentração de japoneses fora do país de origem encontram-se na nossa capital) em plena era do sedentarismo praticando exercícios físicos na praça da Liberdade às sete horas da manhã com música!!! E eles dançam animados! 25 de março? Trocar telefone no trânsito parado? Namorar a tarde no vão do Masp?

Quando recebi esse e-mail de uma amiga, e li, com os textos de no máximo cem palavras desenvolvidos por escritores e blogueiros sobre a cidade de São Paulo, não me espantei, ao contrário da Revista quando ela afirma, com surpresa, que nenhum dos 20 contos recebidos tinham um final feliz.


Os contos, inclusive encabeçados por um ator que admiro, Marcelino Freire, são exatamente o que eu conheço de rodas culturais literárias na noite paulistana.


A tinta da caneta é cinza, as roupas são pretas, o discurso é splum, e o café é sem açucar. As carreiras são as das cocas-colas. E as reclamações são as mesmas, e a imagem pinta pouco. É prostituta bêbada e suja, os cigarros, os incompreendidos da noite, a madame alienada, o cachorro da madame que usa shampoos caros, a classe média sentindo cinza a dor que sangra vermelho em uma maioria que não escreve. É uma separação, deles versus nós, que na verdade, se sem preconceito, poderia juntar. Poderia olhar sem provincianismos de suas rodinhas e ver mais longe. Ver junto. Todos são os patos, e os patos fazem quá quá.


A classe média que não vai até a favela, mas fala de sentimento de compaixão embriagada de verborragia e drogas que são compradas e sustetam a violência nas favelas. (Olha a tropa de elite!). E depois, os intelectuais que gozam de suas habilidades de sedução dicursivas nas belas ouvintes de esquerda com seus decotes, que não são nem canhotas, mas são vazias também. E ficam falando do que seria proibido, levantando bandeiras e achando que chocam por falar de sexo sujo em suas métricas, por falar de drogas, suicídio, homosexualismo, ateísmo ou poligamia natural. Não me convencem. Conheci Catulo.


Denuciar diferença social choca naturalmente, por ser tão humano, e por ser sentimento. Já folhearam o livro África, de Sebastião Salgado? Ninguém de preto, e tudo de verdade mesmo.

Talvez, como paulista, deseje uns cariocas para tirar uma onda, mesmo quando é tando na maior puruca. Ou um gaucho para dançar a chula em cabo de vassoura. Pergunte ao sertanejo, ou ao seringueiro. Os paulisas perdidos dentro da sua cidade, tão cosmopolita podiam contar talvez da tarde de amor da Josisvânia e do Jair no Ibirapuera, poderia contar que ocupação na reitoria da Usp virou invasão de reitoria da novela da globo (que triste!)rs. Poderia contar como o carteiro chega nas casas que não tem número e nas ruas que não existem. Eles chegam de verdade.

Bom, para esclarecer, falava desta matéria abaixo. Desabafava. Sim, é da Folha e eu não concordo com tudo o que a Mariane escreve. Mas achei interessante o fato de um número relevante de jovens escritores paulistas compartilharem de uma mesma onda. Slum, splash neles! Ficou quase um Grease, mas sem a brilhantina.


***


Folha de São Paulo. Suplemento: Revista da Folha. p. 20-27. São Paulo, 13/01/08.

Conte até cem
Jovens escritores imprimem descrença e pessimismo em microcontos que têm a cidade como pano de fundo


por Marianne Piemonte

Essa conversa de que quem conta um conto aumenta um ponto foi aqui subvertida. Escritores estreantes (alguns nem tanto) e blogueiros receberam a missão de contar histórias com o limite de cem palavras. Nem ponto nem vírgula a mais ou a menos. São Paulo deveria aparecer como tema, cenário ou coadjuvante nos textos. Para a surpresa da Revista, dos 20 microcontos que chegaram à redação, 3 falavam de suicídio e, nos demais, havia sopros de melancolia e toda a sorte de mazelas existenciais. Estará a nova geração desacreditada da vida? Ou São Paulo para esses jovens exala pessimismo e descrença? Para a professora de filosofia da PUC-SP, Sônia Campaner, 50, não se pode dizer que há uma reedição do Romantismo, mas, como naquele momento (quando a geração mal-do-século morria tuberculosa, entre os séculos 18 e 19), talvez o mesmo sentimento de ausência esteja de volta. "A cidade é uma espécie de signo de uma cultura que oprime, e a arte é um termômetro desse sentimento", diz. Mas, ao contrário dos byronianos (seguidores de Lord Byron, expoente daquela escola literária), os paulistanos desiludidos extraem do concreto e da violência sua matéria-prima, produzindo uma literatura demasiadamente realista e de tons acinzentados. Na opinião da professora de crítica literária da PUC-SP, Vera Bastazin, 50, o diálogo entre a arte e o cotidiano é algo inevitável. "Mas o que impressiona e assusta é que esses autores parecem estar com o imaginário aprisionado no dia-a-dia. Não há libertação nem na imaginação. Com esse binômio fundido, a realidade não é usada como motivação, mas como fator determinante, o que é muito sério em termos de arte", acha. Questionados sobre seu trabalho ser pessimista, os escritores discordam. "Não me parece que o meu conto seja 'deprê'. De qualquer modo, penso que toda a literatura não fala de outra coisa senão de morte e, talvez, amor (no fundo, uma variação do primeiro tema). São Paulo não tem nenhuma culpa por isso", diz Verônica Stigger, 35, que participa com o conto "200 m2". Os novatos Vanessa Barbara, 25, e Emilio Fraia, 25, preferem entrar na discussão de outra forma, embutindo crítica social numa estética nonsense. Ela: "Eu e o Emilio fazemos parte de uma corrente literária que aborda apenas os grandes temas: patos e palhaços. O último palhaço feliz que eu vi em São Paulo estava aos prantos. O último pato, dentro de uma panqueca... Não é uma cidade particularmente amistosa para quem não tem CPF". Ele: "Tem um poema do García Lorca que diz que 'todos os dias são mortos em Nova York quatro milhões de patos'. 'Debajo de las multiplicaciones/ hay una gota de sangre de pato'. Em São Paulo é assim também. Nada de CPF". (Entenda por "pato" a criatura excluída que quiser.) A escritora, doutora em literatura e colaboradora da Folha Noemi Jaffe, 45, diverte-se com a discussão. "Parece que há uma tendência na literatura contemporânea a uma pseudo-imitação de Rubem Fonseca, mas de forma fácil", diz. Para ela, os jovens autores demonstram um apego ao maldito, uma vontade de chocar e de se mostrar marginal que beira a adolescência. "A vida está tão dura que fica a idéia de que é preciso ser literal para ser político. Mas, assim, eles se esquecem do lado poético da poesia." Noemi lembra um conto de Julio Cortázar, no qual um homem cospe coelhos. "Aquilo era subversivo e não foi preciso ser literal para ser político", diz. Para os convidados neste exercício, a lírica é outra. São Paulo até cabe em cem palavras, mas nenhuma delas comporta final feliz.

2 comentários:

Dudsss disse...

Kzinha.. é incrivel como cada blog tem 1 cara , 1 gosto, 1 perturbação, o seu tem cara de casa de boneca , gosto de poesia com frura fresca, e conteudo complexo,inteligente, figurado, e de denuncia... Gosto do estilo do seu blog apesar dele exigir vontade de ler, para que a pessoa reflita sobre o que esta escrito, as vezes passo aqui e não leio, assimilo como mensagem a foto postada q sempre é de bom gosto e tem algo implicito, dentre umas 15 visistas q ja fiz aki eis o meu primeiro comentario...uma critica de 1 amigo ao Angu da Pagu, continue sempre postando pois blog é 1 terapia, as vezes passo aki só pra ver se vc postou algo, é engraçado faço isso com quem num vejo faz tempo.. vo no favoritos clico no blog e se estiver atualizado é pq a pessoa esta viva.sempre que der visite o meu ..ja fiz propaganda antes.. mas as vezes nos blogs amigos tem algo que agente procura e não sabia... AMOOOOOOOOOOOOOO VC

Anônimo disse...

Ei, mas eu não te chavecava com meu papo pseudo intelectual de centro-esquerda por causa do seu decote.. voce sempre me seduziu foi pela boca, que é uma delicia de enorme, e que triplica com o sorriso... kkkkk... saquei prq vc lembrou de mim, fico feliz (apesar das cutucadas) e tbm do resto da galera que vc lembrou com certeza... quanto aos textos eu tbm concordo com vc e acho que essa escrita sombria e rasteira é muito uma questão de modismo cult, e prq a literatura hj é quase um roteiro cinematográfico. Um rap é bem mais interessante.
Que coisa, seu recado atiçou saudades... sera que vc volta esse ano? eu to muito mais pagodeiro do que pseudo esquerdista agora (rs... é sério) mas ainda consigo te jogar uns xavecos... rs... ou pelo menos dar umas boas risadas com vc por aqui...
Bjs