Para amar, Neruda. Neruda porque ele é cem vezes e mais uma canção desesperado. Para alma, Bandeira. Bandeira porque ele é simples e exato. É dançar um tango, calmo, leve e imortal. Para pensar, Caieiro. Claro, ele é a pessoa das pessoas do Pessoa. Ele vê, e é isso. E a minha cabeça ainda tá mais é pegando no tranco. Gosta é de olhar mesmo. Já vale a pena para as almas não pequenas.
Mas as vezes é bom um gole seco do Drumond. Dessas doses que descem garganta a dentro, queimando. Mais um shot! E talvez ainda precise de mais uns goles de Machado, para beber das realidades sólidas que convivem junto aos mundos dos que acreditam e tomam leite parmalat.
*VERDADE*
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar.
Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
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